27 de set. de 2011

Você não pode parar!

Não temos um minuto.

Temos velocidade.

Gigabytes não servem.

Agora são terabytes. Por enquanto!

Corro demais, sofro demais,

Mas não há tempo para lágrimas.

Cada vez que choro, cada vez que sofro,

É menos produtividade, é menos comida para os filhos.

Não posso parar.

A cada abismo depressivo diminuem

As minhas compras e o outro passa à minha frente.

Definitivamente, só posso rir e ouvir músicas.

Tapo o ouvido para o barulho da existência

E o que vejo pelas janelas do meu carro, do ônibus,

Do metrô se dissipa. Toda violência, toda miséria,

Todo o cansaço se dissipa junto com a música.

Em mim, reverberam as imagens midiáticas

E as súplicas consumistas, porém, nenhuma delas é fixa.

Um carro novo entra em meus olhos. Um móvel novo.

Uma casa nova, uma roupa, um sapato, uma pessoa...

E o sistema faz brotar em mim o que lhe é mais peculiar:

O verbo em primeira pessoa sempre. O lucro sempre.

A ressonância mais absurda de um tempo fugaz.

Tempo tão efêmero que todas as coisas precisam caber nele.

E por isso me liquefaço para estar em todos o lugares,

Quando eu mesmo sou um não lugar, quando

Sou tão estranho na sobremodernidade,

Entre celulares, iphones e Ipads e aviões.

Fizeram-me fantasma e também só vejo espectros.

Todos se dissiparam no crivo da peneira e como

Em chão árido foram sugados pela terra.

A terra que não tem mais raiz.

E o máximo que poderia ser construído em eventual

Tempestade, seria o encontro dessas águas artificiais

Para constituição de grande cratera erosiva, onde tudo

É tornado lama e caótica navegação.

Daniel de Castro

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