Daqui eu vejo que você respira.
Consigo ainda ver suas lágrimas,
As angústias que se seguem no
Tempo amorfo do sentir.
No tempo estanque do olhar perdido.
É a vida. É a dor. É o sal.
É o sal que escorre por causa
Do que foi o oposto.
Por causa do que, até bem pouco,
Foi o favo sugado e o beijo em lábio doce.
Daqui eu olho direto nos seus olhos.
O ambiente vai se definhando e tudo desaparecendo
Até ficarem, os olhos, fixados em um ser tão estranho.
As rugas, a barba, a expressão grave e as mãos travadas
Em cima da pia.
Um pingo para a torneira, uma torrente para os olhos.
O marejar ofusca, distorce a imagem que não mais é conhecida.
A água que banha os olhos ofusca, dissipa o meio e refrata a luz.
Sol avassalador: é você nas reminiscências.
É ela em sua pupila semicerrada.
Imagens de um tempo de torpor:
Ânsia inefável e um sanitário do lado.
Um banho quente.
Um banho de lágrima misturada.
Barulho da água no chão, do chuveiro,
De soluços solitários.
Tristezas que o ralo não consome.
Daniel de Castro