9 de nov. de 2011

Espelho do Banheiro



Daqui eu vejo que você respira.
Consigo ainda ver suas lágrimas,
As angústias que se seguem no
Tempo amorfo do sentir.
No tempo estanque do olhar perdido.
É a vida. É a dor. É o sal.
É o sal que escorre por causa
Do que foi o oposto.

Por causa do que, até bem pouco,
Foi o favo sugado e o beijo em lábio doce.
Daqui eu olho direto nos seus olhos.
O ambiente vai se definhando e tudo desaparecendo
Até ficarem, os olhos, fixados em um ser tão estranho.
As rugas, a barba, a expressão grave e as mãos travadas
Em cima da pia.

Um pingo para a torneira, uma torrente para os olhos.
O marejar ofusca, distorce a imagem que não mais é conhecida.
A água que banha os olhos ofusca, dissipa o meio e refrata a luz.
Sol avassalador: é você nas reminiscências.
É ela em sua pupila semicerrada.
Imagens de um tempo de torpor:

Ânsia inefável e um sanitário do lado.
Um banho quente.
Um banho de lágrima misturada.
Barulho da água no chão, do chuveiro,
De soluços solitários.
Tristezas que o ralo não consome.


                                                                                 Daniel de Castro