27 de set. de 2011

Cerrado Serrado

Veja esse tempo amorfo,

Essa fumaça suspensa.

Sinta o ardor dos meus olhos

Por causa da noite insone.

Olhe essa vermelhidão,

Sem uns óculos sequer

Para disfarçá-la.

As árvores foram queimadas.

Parece que todo calor desesperado

Está em mim.

Parece que todo estalido

Das chamas que avançam...

Parece que esse barulho...

Parece ser incessante

O silêncio do desespero

E o encontro da alarde

Fuga para a morte agonizante.

Eu sou o cerrado.

Torto, retorcido.

Manancial poluído.

As minhas madres não

Produzem mais a vida

Desde o tempo em que

Não mais recebi as

Bênçãos das chuvas.

Agora sou bairros Norte, Sul, Sudoeste, Noroeste e Condomínios.

Sou a expansão desordenada para os lados e para cima.

Em todas as direções, casas, apartamentos e avenidas engarrafadas.

Sou erosão e solo infértil.

Tornei-me uma estufa de especulação imobiliária.

Agora sou pasto vasto, uma plantação de milho e soja sem fim.

Meu solo é embebecido de agrotóxico e os meus filhos

Morrem de câncer.

Não é Deus que quer assim; é a ganância que não tem a medida da maldade.

Desesperem-se. Manerem. Em breve, muito em breve, não se ouvirá o canto

Da cigarra.

Daniel de Castro

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