Quando no torpor da hostilidade existencial, parece que o corpo dele se esfacelaria com a respiração última e o adeus único. Derradeira vez de agonia. Derradeira vez que a morte o incomodou. Então deixou-se de ser. Ou voltou a não ser, visto que nunca foi, não era; esteve apenas. Densamente viveu. Não, não viveu. Porque o que é denso para a alma do homem, mais é árduo para o coração.
Cambaleou nos seus caminhos tortuosos, às vezes, com a música de algumas risadas que as guardou com carinho. Porém, não conseguiu mais lembrar-se do som nem do amor que muitas pessoas sentiram por ele. Engrenagem enferrujada da produção em larga escala, portanto, fora substituído.
Teve amores, entretanto, sua conturbada vida os fez ir. E foram com lágrimas reais e passos sem volta.
Entristeceu-se na solidão dos barracos de fundo e de aluguéis caros. Entristeceu-se pelos favores que nunca pode retribuí-los e por ver novelas por não ter o controle.
Também alegrou-se algumas vezes visto ser quisto entre os seus.
Hoje, encontra-se perdido entre o tempo e o vazio desse tempo e o frio desse tempo.Sua vivência é inóspita e não se consegue acesso a ele. Não se consegue resgatá-lo. Já creu em Deus e com lágrimas e soluços desesperados suplicou-Lhe inexoravelmente por dias melhores. Entretanto, os dias se seguiram hostis. E o que era para ser a seu tempo, estava-se perdurando além do necessário e do eficaz. Passava-se da conta a ponto de a humanidade dele tornar-se ódio, indiferença e lógica cortante com a desqualificação dos sentimentos...vendo a vida social apenas como um xadrez bem articulado e movimentos tão certos, previstos, marcados. Um grande teatro. Trágico. Onde todos morrem, inclusive o rei. Onde cada um acha que seu “movimento” é importante, até que chega um câncer, um infarto, um acidente e desqualifica a imponência efemeramente humana. A importância do poder se torna tão substancial quanto uma sombra.
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